O despercebido em tanta informação.
O centro da cidade de São Paulo é palco de diversidade. O olhar para cima vê lindos e altos prédios, com arquiteturas envolventes e atraentes. E olhando para baixo a miséria toma conta das pessoas em situação de rua que ali habitam, pedindo dinheiro, comida ou simplesmente atenção.
Executivos com roupas caras mantém seus olhares em seus Iphones, ignorando a realidade que os cerca. Jovens que estão desacostumados com o centro escondem os celulares e seguram firmes suas mochilas com medo de serem assaltados. Mulheres questionam a roupa que vão sair de casa, pois apesar do “não é não” e “minha roupa não é um convite” a cultura machista grita mais alto que qualquer frase feminista de impacto.
Na frente da loja de doces importados tem uma vendinha de uma senhora que trabalha todos os dias da semana para pagar suas contas. Turistas tiram foto e posam para ter conteúdo novo no Instagram, e mostrar a linda São Paulo. Excursões de escola levam alunos até pontos turísticos, evitando os lugares mais “perigosos”, e com o intuito de estudar história dos lugares que frequentam ignoram a história que está acontecendo ali e agora. Tão óbvio quanto imperceptível.
Ao sair da estação de metrô na Praça da Sé, o crente grita com a Bíblia na mão, coisas que poucos querem ouvir. A vendedora da feirinha oferece doces que poucos querem comprar. A moça em situação de rua pede uma esmola que poucos vão dar. E é nesse universo no meio de tanta informação que se instala um ciclo em que ninguém se ajuda e todos reclamam. Deixando nítido a desigualdade social.
O que concretiza essa forte desigualdade no centro da cidade de São Paulo é o ponto de vista de um advogado que trabalha em um escritório na Rua Quinze de Novembro em contraponto com o de um morador de rua que está sempre nas redondezas.
O advogado lembra de todo o conceito tradicional que o local tem em sua história, toda a antiga concentração de atividades econômicas e produtivas da cidade. Que hoje, com a modernidade, se dissipou por outros bairros tão empresariais e produtivos como a zona central. Reconhece o centro como um ambiente que existem vários tipos de segmentos da sociedade. Menciona os restaurantes e consegue facilmente citar os que mais lhe agradam. Enquanto bandas de rua e vendinhas mais simples passam despercebidos por sua fala.
No discurso do morador de rua, é evidente sua situação degradante e diminuída pelo ambiente que o cerca. Afirma que o centro da cidade é um lugar bom, mas que tem que ter muito cuidado. Diz que é uma vida complicada, pois qualquer lugar que encostem ou cheguem perto, em questão de segundos aparecem alguns guardas querendo tirá-los dali. Mendigos apresentam risco e pobreza, algo que as autoridades da sociedade desejam e tentam esconder. Porém, mesmo assim, o morador de rua lembra de diversas bandas que tocam na região, e que fazem a alegria de seus dias. “A gente não tem nada, mas é feliz”.